sábado, 13 de dezembro de 2008

Formas sinuosas com aparência leve e elástica. A curva desafia o material pesado, o bronze. A exposição de Tony Cragg na Galeria Thomas Cohn reafirma a posição do artista como um dos mais importantes escultores da atualidade. Os trabalhos expostos evidenciam um escultor em plena maturidade, no completo domínio de sua arte. Podemos dividir a exposição em dois seguimentos: esculturas que repetem o formato estilizado do perfil humano, nos sentidos vertical e horizontal, e formas mais orgânicas e curvilíneas, ambos seguindo procedimentos escultóricos que o artista vem explorando desde fins dos anos 80. A escultura de Tony Cragg não reconhece as fronteiras entre abstração e figurativismo, grande dogma do modernismo, sempre se caracterizou como uma mescla entre esses elementos, os quais completam o que sempre esteve evidente em seu trabalho: formas que desafiam as limitações não só dos próprios materiais, mas, dos (pre)conceitos ligados e fixados a eles. Mesmo quando recorre à tradição, usando o bronze ou o granito, como nessa exposição. É como dar nova chance ao material, recriá-lo e reinterpretá-lo de um ponto de vista muito pessoal e sedutor. Para isso, o artista utiliza prerrogativas que o tornaram conhecido, como o emprego de cores e padrões, o que o aproxima, respectivamente, da pintura e do desenho, elementos que conferem e reiteram o elevado nível artístico de suas esculturas. A série de trabalhos produzidos, a partir dos anos 70 e nos anos 80, com o acúmulo de objetos encontrados no lixo, fragmentos e resíduos cotidianos, assemblages que depois resultam num misto de instalação, desenho, e pintura, deixam claro que a experiência com formas gráficas é muito importante no processo criativo do artista. A partir da década de 80 a linha curva vai se consolidando no seu trabalho, principalmente o de vertente mais abstrata. A curva adquire crescente leveza e fluidez, numa evidenciação de que o caráter gráfico de seu trabalho se transfigurava à medida que sua pesquisa com os mais diferentes tipos de materiais se radicalizava. A profusão de linhas sinuosas que se cruzam e se interpenetram absorvem e retêm o olhar do espectador. A interpenetração de linhas tortuosas nos lança num labirinto circular de onde o olho parece não querer sair. As curvas saltam à memória onde pululam referências que passam pelas linhas sinuosas de Henry Moore, Hans Arp, Antoine Pevsner e Naum Gabo. O virtuosismo com que trabalha os diferentes materiais, de maneira inesperada, surpreende e seduz. As pesquisas formais com o perfil humano, a partir do final da década 80 se intensificam até se consolidarem como uma das características marcantes de sua fase atual. A formalização da silhueta se dá de duas maneiras: esculturas totêmicas nas quais as posições dos perfis se alternam em sentido vertical, de um lado,à direita e, do outro, à esquerda e assim por diante, em que se sente um sopro brancusiano. Ou no sentido horizontal, em que as silhuetas se justapõem em camadas ressaltando uma simultaneidade visual que pode nos remeter às pesquisas formais do Cubismo e, sobretudo, do Futurismo. É possível argumentar que, com essas esculturas, o artista possa estar mais ortodoxo do que nos anos 70 ou 80, época em que, através da incorporação de diferentes materiais e fazendo um vôo livre sobre o humor duchampiano e o comentário figurativo da Pop Art a partir de resíduos da sociedade de consumo, sem, no entanto, renunciar ao geometrismo, era uma inflexão à austeridade puritana do minimalismo. Na sua origem, seu trabalho se baseava na reciclagem de coisas ou fragmentos de objetos encontrados no lixo, os quais, através de engenhosa aglutinação, iam de encontro a formas, às vezes geométricas, outras vezes figurativas e, posteriormente, num agrupamento de objetos díspares, em pesquisa de formas e materiais tão diversos como plástico, gesso, madeira e metais que resultavam em coisas que dialogavam de maneira inusitada e instigante. Variados recipientes que sugerem pratos, garrafas ou vasos e outros objetos cotidianos como mesas e cadeiras, além de motivos que remetem ora ao reino vegetal, ora ao reino animal, num encontro insólito entre o objeto industrial e o natural, a forma estilizada e a orgânica, a natureza e a civilização. No momento, observamos certa ortodoxia no desenvolvimento de suas esculturas quando percebemos referências a escultores modernistas, que trabalharam nos limites entre o abstrato e o figurativo. A ênfase no bronze e no granito, materiais impregnados de história, ainda que não sejam usados de maneira convencional, parece ser sintomática. Mas suas formas continuam impressionando pelo alto nível com que desafia os limites dos materiais impondo e propondo a estes maneiras diversas de abordar a prática escultórica, com a estilização de recursos gráficos que se repetem. Sim, estão longe os tempos em que incorporava elementos da pintura e do desenho à sua escultura com inovadoras resoluções. Embora com resultados não menos surpreendentes, mas sem o frescor de 20 ou 30 anos atrás, agora suas esculturas adquirem, à sua maneira, feições “clássicas”, reiterando características que se cristalizam com a evolução de seu trabalho e com a rigorosa pesquisa escultórica que tem desenvolvido.
Galeria Thomas Cohn
Av Europa, 641 - Jd Europa - São Paulo - SP
Tel.:3083-3355
12.11.08 / 20.12.08
terça - sexta 11 às 19h sábado 11 às 19h

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