sábado, 13 de dezembro de 2008


A 28ª Bienal de São Paulo prática ou virtualmente não existe. Com nome pomposo e o 2º andar completamente vazio chega a ser acintosa a sua insignificante ou (por que não?) nula existência. O 2º andar vazio funciona como um buraco negro que suga ou anula quaisquer objetos ou manifestações artísticas expostas ou que possam ocorrer nas demais dependências da Bienal. Tudo cai no vazio, inclusive o pomposo nome que, nesse contexto, nada significa. Mas nada nessa Bienal significa ou se justifica. Como já disse, o malfadado 2º andar engole tudo. Ok, a predominância da arte conceitual no 3º andar poderia nos iludir que o vazio do 2º é, também ele, manifestação da arte conceitual, ou o seu olímpico triunfo, mas não passa de um delírio conceitual, se considerarmos que a curadoria, dada a grande disponibilidade espacial do 2º andar, ocupa, com discurso vazio, o lugar de dezenas de artistas, usurpando assim o papel e a função reservados a eles. Assistimos, então, a um momento extremo e inédito na arte contemporânea: quando a curadoria, revestida de plenos poderes, resolve, em bizarra e unilateral troca de papéis, ocupar o lugar do artista. Uma exposição para existir tem que ter a) artistas e b) público, a curadoria resolve, com impressionante arbitrariedade, esvaziar a Bienal retirando dos artistas o direito de expor e do público o prazer de fruir. Se ocupa o lugar do artista, seus conceitos como curadoria estão esvaziados. Não é possível, ao menos nessas condições, uma curadoria fazer o duplo papel de curador e único artista ao mesmo tempo. Dispor, não só do 2º andar, mas de todo o espaço da Bienal (como já deixei bem claro, de nada adianta expor obras de alguns artistas no térreo e no 3º andar, o vazio do 2º e sua equivocada concepção anulam, contaminam e inviabilizam toda a Bienal) para nos impingir uma reflexão (sobre a validade do atual modelo da(s) Biena(l)(is)) que poderia ser interessante se estudada em debates, palestras e simpósios paralelos à exposição por artistas, críticos, educadores, autoridades e segmentos da sociedade interessados em arte, é um disparate. Assim, parece não ser possível comentar o pouco de arte que há nessa Bienal que não se abre ao diálogo e nem se impõe como a boa arte. Implacável e taxativamente, apenas impõe. Não porque os artistas que estão ali sejam irrelevantes. Mas porque o equívoco que levou à (in)existência dessa Bienal, infelizmente, não dá espaço para que teçamos comentários críticos sobre os artistas e seus trabalhos. Por outro lado, não há como ignorar que a Fundação Bienal padece de uma crônica falta de verbas. Basta lembrar que a Bienal que seria a de 2001 foi adiada para o ano seguinte. Ou que o catálogo da Bienal de 2006 só ficou pronto meses depois de fechada a exposição. Pode-se cogitar que, embutido em seus argumentos esteja também uma manifestação da curadoria sobre esse estado de coisas... Não acredito, mas se for esse o caso, de boas intenções... Sim, essa Bienal deve ficar para a história, mas não pela sua relevância, que é nenhuma, mas pela triste memória de um vazio que tivemos que engolir sem a menor necessidade, um tédio que, sob qualquer circunstância, seria totalmente dispensável.
Na foto, em primeiro plano: pintura no piso de Dora Longo Bahia

28ªBienal de São Paulo - "Em Vivo Contato"
Av. Pedro Álvares Cabral s/n, portão 3, Parque Ibirapuera - São Paulo - SP
Tel.: 5576-7600
26.10.08 / 06.1208
terça - sábado 10h às 22h




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