terça-feira, 11 de maio de 2010

Savana Urbana



Os Chacais se esgueiram nas ruas repletas de sangue coalhado farejando pedaços de carne fresca.


Os Abutres vêm dilacerar o peito dos incautos, que passeiam em carros conversíveis recém-roubados, para arrancar-lhes os corações pulsantes de ódio.


Os Leões, Leopardos e Guepardos espreitam com calculada quietude nos becos das alamedas fuliginosas e barulhentas, onde podem escolher a menos zelosa Gazela, o mais ignorante Gnu ou a mais incapaz Impala.


Os Fantasmonstros sequestram a saúde do son(h)olento Paquiderme no negrume da noite enviando Traças e Sanguessugas que devoram com fervor suas entranhas.


A Infâmia camuflada de Fada passeia glamurosa nas ruas em ruínas num ócio nada gratuito.


Os Tigres perpetram chacinas no clarescuro de calabouços obscuros e esquinas traiçoeiras.


O Craque trafega com garbo em trajes esportivos sobre cadáveres putrefatos ou corpos semimortos que ainda emitem seus últimos gemidos de dor.


Os Crocodilos esperam com olhos vítreos e imersos em paciência lodacenta potenciais vítimas dentre desavisados Gnus e lesadas Gazelas.

Um Filhote de Elefante é fustigado por um grupo de Hienas apesar dos protestos da Mãe. Mas, num ímpeto, ela investe com fúria materna sobre o voraz bando que, como um bloco pulverizado, se dispersa em ruidoso alarido pela rua afora.



A Virgem vestida com trajes alvinegros aguarda a Morte: passarão a lua-de-mel na cidade-masmorra onde vão fuzilar a modorra cotidiana à queima-roupa munidas com metralhadoras furtadas de uma turma de Hienas armadas travestidas de Gnus.



A Barbárie se refestela num lauto banquete saboreando sanguíneas iguarias num seguro reduto situado na torre mais alta da megacidade.






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