sábado, 8 de maio de 2010

o amor e a vergonha




o amor se insinua
no lusco-fusco
de um olhar
a jato


o amor flutua
pesado
sob olhares
esgazeados


o amor esbarra
ruidoso
sobre pernas
trôpegas


pousou a águia negra
e vomitou o amor
em bolotas coloridas


paira o tempo
com orgulho hedonista
sobre corpos exangues


pessoas apreciam
boquiabertas
olhar fixo
espelhos cegos


pombos esquálidos
semidepenados
pousam
asas pétreas sobre
serpentes carbonizadas


pés embalsamados
percorrem
desertos brancos
cortados por
rios vermelhos
que se cruzam
infinitamente


sobre ruas
suspensas superlotadas
trafegam
veículos hipersônicos
em voo
soturno


bovinos observam
ruminando
um horrorshow
aerodinâmico


chimpanzés com
mãos manchadas
de sangue empilham
cadáveres esquartejados
erigindo edifícios
de horrores


com odor de
enxofre
formas inumanas
exangues
emergem
de ruas
recheadas
de crateras de

sangue coalhado


a águia branca
sobrevoa
cadáveres de ratos
calcinados pelos
ventos inflamáveis
da vergonha
universal


ecoam pelas ruas
vazias
gritos de ratos
em desespero
agonizante
atraindo a voracidade
dos crocodilos


ratos em agonia
se aglomeram
desesperados
na vã tentativa
de alcançar o topo
do edifício
do amor universal







em meio a fezes e lixo
baratas assistem
animais defecarem
com expectativas
alimentares dobradas
e querem crer
livres da sanha
assassina da cidade


























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