És não És
Ator A
No és não és das palavras a culpa nas entrelinhas.
Ator C
No tecido compacto das palavras um és não és. De culpa.
AtorB
Um és não és. Embora o nada. Ora, o nada. Um és não és. De culpa no nada.
Ator D
Nas entrelinhas entrevê-se um és não és de culpa.
Ator C
Entrevê-se o quê? Ora, um és não és de mentira. Um quase branco sobre branco. Qua-se! A mácula engendrada no tecido compacto das palavras.
Ator A
Vê-se então: na palavra compacta penetra um és não és de mentira. Então: a culpa.
Ator C
Medo. Culpa.
Ator B
A cupidez da palavra em vão disfarçada. A vanglória ecoa no tecido asséptico. Contamina a trama esgarçando o que era compacto.
Ator D
Rompendo a retidão do tecido. Nas entrelinhas da trama a mentira. Apenas. Um és não és. Embora.
Ator B
Sim um és não és. Ainda assim, a mentira. Onde a assepsia? No vazio brancobranco dos museospitais?
Ator A
Brancobranco? Nos museospitais onde o medo jaz. Embora em tubos de ensaio. Mas lá o medo. Lá! (voz alta)
Ator D
É preciso anestesia. É preciso a prisão asséptica dos tubos de ensaio. Eliminar o és não és da mentira nas palavras.
Ator C
As palavras à espera. A mentira fundindo-se ao tecido compacto. Agora, não mais. Um és não és. Mas. À espera do perdão. Limitude.
Ator A
Não o brancobranco infinito. Não o nada brancobranco. Na infinita assepsia museospitalar a mentira macula. Então a finitude.
Ator D
Recorrer a recursos artificiosos. Tubos de ensaio. A vanglória das palavras anestesiadas e congeladas em tubos de ensaio. Ainda assim, adianta?
Ator C
Sim? Sim. Sim? Onde o branco sobre branco das palavras?
Ator A
Apesar das vãs tentativas. Apenas um és não és. A mácula como registro. Fóssil vivo. Embora um és não és. Limitude.
Ator B
Brancobranco. Negronegro. Tantofaz. A homogenia como regra jaz. Um és não és no branco. Um és não és no negro. Ora, cor não vem ao caso.
Ator C
Os recursos artificiosos dos tubos de ensaio apenas reiteram: a finitude é irreversível. O tecido das palavras se esgarça em movimento inexorável.
Ator B
Negrobranco ou branconegro: um és não és apenas. Um quase nada. Qua-se. A finitude. Até onde?
Ator C
Na ruptura da trama. No esgarçamento inexorável. Onde começa a culpa e o medo.
Ator B
Onde entrevê-se o obscuro. O obscuro vazio. Entretrevas. Onde o és não és adquire a gravidade da culpa e do medo.
Ator A
Na fusão do nada com o quase. Na fronteira traiçoeira onde aguardam a culpa, o medo e a mentira. No esgarçamento do tecido não mais a retidão da palavra.
Ator C
Medo. De contemplar o medo. Mesmo o medo preso em tubo de ensaio. Na extrema assepsia museospitalar. Mesmo assim.
Ator B
Cúpidas palavras à espera de perdão.
Ator D
Perdão? Cúpidas palavras à espreita. Suspeita. Traição.
Ator C
De museu... Medo. Antisséptico. Fóssil vivo. Na penumbra. Do branco hospitalar.
No és não és.
Ator A
A cupidez das palavras à espera. . .De perdão? Embora a traição. A conspiração. Na penumbra do branco sobre branco.
Ator D
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