terça-feira, 11 de maio de 2010

És não És


Ator A

No és não és das palavras a culpa nas entrelinhas.


Ator C

No tecido compacto das palavras um és não és. De culpa.


AtorB

Um és não és. Embora o nada. Ora, o nada. Um és não és. De culpa no nada.


Ator D

Nas entrelinhas entrevê-se um és não és de culpa.


Ator C

Entrevê-se o quê? Ora, um és não és de mentira. Um quase branco sobre branco. Qua-se! A mácula engendrada no tecido compacto das palavras.


Ator A

Vê-se então: na palavra compacta penetra um és não és de mentira. Então: a culpa.


Ator C

Medo. Culpa.


Ator B

A cupidez da palavra em vão disfarçada. A vanglória ecoa no tecido asséptico. Contamina a trama esgarçando o que era compacto.


Ator D

Rompendo a retidão do tecido. Nas entrelinhas da trama a mentira. Apenas. Um és não és. Embora.


Ator B

Sim um és não és. Ainda assim, a mentira. Onde a assepsia? No vazio brancobranco dos museospitais?


Ator A

Brancobranco? Nos museospitais onde o medo jaz. Embora em tubos de ensaio. Mas lá o medo. Lá! (voz alta)


Ator D

É preciso anestesia. É preciso a prisão asséptica dos tubos de ensaio. Eliminar o és não és da mentira nas palavras.


Ator C

As palavras à espera. A mentira fundindo-se ao tecido compacto. Agora, não mais. Um és não és. Mas. À espera do perdão. Limitude.


Ator A

Não o brancobranco infinito. Não o nada brancobranco. Na infinita assepsia museospitalar a mentira macula. Então a finitude.


Ator D

Recorrer a recursos artificiosos. Tubos de ensaio. A vanglória das palavras anestesiadas e congeladas em tubos de ensaio. Ainda assim, adianta?


Ator C

Sim? Sim. Sim? Onde o branco sobre branco das palavras?


Ator A

Apesar das vãs tentativas. Apenas um és não és. A mácula como registro. Fóssil vivo. Embora um és não és. Limitude.


Ator B

Brancobranco. Negronegro. Tantofaz. A homogenia como regra jaz. Um és não és no branco. Um és não és no negro. Ora, cor não vem ao caso.


Ator C

Os recursos artificiosos dos tubos de ensaio apenas reiteram: a finitude é irreversível. O tecido das palavras se esgarça em movimento inexorável.


Ator B

Negrobranco ou branconegro: um és não és apenas. Um quase nada. Qua-se. A finitude. Até onde?


Ator C

Na ruptura da trama. No esgarçamento inexorável. Onde começa a culpa e o medo.


Ator B

Onde entrevê-se o obscuro. O obscuro vazio. Entretrevas. Onde o és não és adquire a gravidade da culpa e do medo.


Ator A

Na fusão do nada com o quase. Na fronteira traiçoeira onde aguardam a culpa, o medo e a mentira. No esgarçamento do tecido não mais a retidão da palavra.


Ator C

Medo. De contemplar o medo. Mesmo o medo preso em tubo de ensaio. Na extrema assepsia museospitalar. Mesmo assim.


Ator B

Cúpidas palavras à espera de perdão.


Ator D

Perdão? Cúpidas palavras à espreita. Suspeita. Traição.


Ator C

De museu... Medo. Antisséptico. Fóssil vivo. Na penumbra. Do branco hospitalar.
No és não és.


Ator A

A cupidez das palavras à espera. . .De perdão? Embora a traição. A conspiração. Na penumbra do branco sobre branco.


Ator D

O medo de que a culpa ocupe. O vazio. O obscuro vazio museospitalar. Em meio a tubos de ensaio. Anestesiar a culpa. Depois, em tubos de ensaio. Não sair mais. Presa.
Ator C
Na vã tentativa de fossilizar a culpa. Com ela a mentira e o medo. Vã esperança de deter o esgarçamento inexorável do tecido.
Ator B
Mentiras à espera do esquecimento. Vã espera do perdão. Inútil busca de uma quimera. A assepsia. Falsa assepsia dos museospitais.
Ator A
A falsa assepsia. Onde a traição das palavras macula o perdão. Onde a palavra imaculada? No obscuro vazio dos museospitais? Na penumbra do branco hospitalar?
Ator B
No clarescuro do nada vazio? Nas roupas brancas dos asseclas do terror? Imaculada quimera.
Ator C
Não. A mácula das palavras apagadas? Jamais. O brancobranco? Impossível.
Ator D
Mentiras e palavras. Uma não vive sem a outra. Eliminadas as palavras, adeus mentiras!
Atores A e B
Eliminemos as palavras, então. Eliminemos. Aí o fim da mentira.
Ator B
A falácia da assepsia. (irônico)
Ator D
A culpa. Usada como desculpa. Usada, sim. Nem me desculpo. Porque usada! De museu. Ou de brechó. Minto apenas. Desminto e me culpo. Desculpas e mentiras de segunda mão. Cansa.
Ator B
Saborosas embora. De segunda sem dúvida. A dívida permanece. Restam dividendos. De culpas e mentiras. Menteculpadas. Mentecaptas. (pausa) Rever a morte. Em solidez putrefata.
Ator C
A assepsia museospitalar: não dividendos. Infecção museológica. Sem dúvida.
Ator D
Dupla infecção. Convalescimento em museospital.
Ator A
Não houve socorro. Nem perdão. Misericóridia roguei. A menteculpada acusava. Não podia correr. Não acusava perdão. Nem misericórdia. Por mais que rogasse.
Ator D
Convalescimento. De segunda em hospitalmuseozoológico. Infecção de segunda.
Ator B
Vestir a culpa. Como roupa mesmo. Nova. De brechó. Gastar a culpa. Ou poupar. Roupa. De sair. De casa mesmo. Como máscara. Maquiagem borrada mesmo. Desbotada. Pós-festa. Na ressaca. Culpa viva em cores desmaiadas.
Ator D
Saboroso convalescimento. Não é tudo. Museozoológico: pesquisa ilógica da culpa. Na tentaiva de erradicar o vírus da culpa. Inútil. Da mentira. Então. Em vão. Dentro o obscuro. A não resposta. O obscuro vazio como resultado.
Ator C
Diagnóstico: menteculpada. Ecoam as pesadas palavras nos museospitais.
Ator A
Não digo que não tenho medo. Lástima. Palavras. ouvem. E veem. E conspiram. Monstros. Mantê-las em tubos de ensaio. Na assepsia hospitalar museozoológica.
Ator C
Culpa minha? Ou da mente? Mentirosa. Submetê-la a trabalhos forçados. Nas masmorras dos hospitais museozoológicos. Mental assepsia.





















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