quinta-feira, 25 de setembro de 2008



o vento sopra seco e quente é o único som que se poderia ouvir nestas áreas ermas desertos não precisam de tantos sons auto-suficientes em seu quase silêncio os desertos absorvem e abafam qualquer movimento ou qualquer ruído contêm virtualmente todas as coisas encerram a algazarra primordial os desertos não são túmulos nem ralos por onde se escoa a existência são lugares onde vidas se entrechocam e se justapõem em sua fugacidade e relativa relevância o transitório e o eterno não apenas inexistem não se pode cogitar deserto: entidade intransitiva as formas se desmaterializam se diluem para se somarem aos outros corpos e existências que jazem em virtuais camadas livres da ostentação da forma do barulho inerente a elas não é a paz eterna o que as formas alcançaram suas existências mais ruidosas do que nunca emitem um som cristalino transparente que transpassa como um punhal o tempo e todas as coisas a história com sua histeria pertence ao império dos corpos solitários o ruído que vem dos lugares povoados transmite a solidão dos seres em movimento o atrito e o barulho que cada corpo ou objeto emite aprofundam o vazio a solidão dos desertos corre tranqüila mesmo com o vento forte e as tempestades de areia que duram horas ou dias ventanias que reconfiguram a mínima paisagem as dunas se deslocam tanto faz o deserto continua as florestas tropicais com maior e mais variada quantidade de eventos têm sistema próprio de funcionamento e dinâmica como qualquer barulho da terra número e variedade de eventos naturais diferencia um ruído de outro a diversidade animal e vegetal cria dinâmica própria encadeando menor ou maior quantidade de sons pode-se definir solidão como um estado em que há quase ausência de ruídos? o vento sopra veemente seus uivos ecoam ao longo do desfiladeiro que se ergue gigantesco e se espalha pleno com rochas de tons de vermelho- alaranjado com grandes interrupções de azul escuro em que há espessos filamentos azuis- turquesa e pretos as grandes partes vermelho-alaranjadas têm largos filetes vermelho-sangue e manchas amarelo-ouro o desfiladeiro é um corredor onde o vento brinca às vezes uivando outras soprando em descontrole e outras calmo suave o frescor se espalha em toda a extensão do desfiladeiro mas do nada o ar se torna ausente instaura-se uma atmosfera abafada e pesada o sol derrama sua luz e seu calor exala um bafejo cálido sobre as rochas intensificando suas cores a luz reverbera de um lado a outro como numa sala de espelhos o brilho ofuscante do sol sobre as rochas só é interrompido pela chuva ou mesmo uma tempestade que torna o imenso corredor um violento rio caudaloso de águas tresloucadas que correm para um lugar subterrâneo uma passagem bem abaixo de uma caverna povoada por longas estalactites e estalagmites em seus inúmeros recintos que vão dar em outros através de precárias e exíguas passagens salas às vezes iluminadas com filigranas da forte luz solar vespertina que penetra por fendas sinuosas seu reflexo num lago de águas transparentes produz efeitos de tons azuis que vão do turquesa ao marinho as estalactites enfeitam o teto como belos lustres de cristal sua transparência se funde à água os minerais em líquida e sólida condição se espelham sob a tênue iluminação o lago é tão cristalino que se pode ver da superfície as ossadas brancas de animais que viveram há milhares de anos tigres dente-de-sabre preguiças serpentes mamutes e outros animais antigos jazem em seu gigantismo fóssil no fundo do lago silêncio fios d’água por entre as frestas das pedras descem suavemente um leve som líquido escorrendo uma microcascata é a única coisa que se ouve o solo abaixo do desfiladeiro é macio a superfície composta por uma camada de areia argilosa não muito espessa de tons de vermelho e amarelo-alaranjado o vento murmura sons ora graves ora agudos que penetram por imperceptíveis fendas buracos e outras reentrâncias o ar quente varre e se espalha corredor afora o vento quente pronuncia sons agudos ou agudíssimos com suas cores e nuances voláteis que se diluem e se misturam com velocidade como num rio são vozes fluidas que deslizam pelas rochas esculpindo formas minerais insólitas e únicas ao longo do corredor há muitas cavernas algumas profundas todas muito antigas com galerias em profusão estalagmites e estalactites lagos cristalinos com brancos ossos de animais antigos depositados em seus leitos num escuro e cristalino silêncio que nem um pequeno sopro de vento vem quebrar um silêncio de museu antigo e fossilizado límpida representação remota do isolamento que parece anteceder o próprio silêncio a transparência da água se reflete no teto e nas paredes da caverna as estalactites e estalagmites decoram os muitos recintos da grande caverna paira um silêncio duro de mármore frágil em sua existência milenar arquiteto das sólidas e delicadas estruturas estalactites de cristal de tamanhos variados penduram-se no teto transparentes ofuscantes algumas delas atingem a superfície do lago um olhar demorado sobre esse ambiente passearia por cada mínimo detalhe cada pequena reentrância cada efeito do reflexo dos cristais na água a transparência se justapondo sólida e líquida em recintos com dimensões e formas várias mas será a caverna infinita? apesar de sua imensidão e quantidade de galerias ela é finita mas se alguém entrasse nela certamente não sairia mais perder-se-ia em sua labiríntica e repetitiva arquitetura transparente estalagmites e estalactites formadas com a lentidão dos segundos minutos horas dias meses anos décadas séculos milênios mudos por pingos dourados que dominam os extensos ambientes da caverna olho nenhum jamais viu ou verá esses recintos espessas e irregulares lanças de ouro que crescem com lentidão milenar proliferam às centenas ou quem sabe milhares por intermináveis galerias o ouro se reflete em cristalinos lagos subterrâneos a luz do sol penetra às vezes sinuosa às vezes direta por pequenas frestas fios de raios de sol somam-se ao brilho ofuscante que domina os imensos recintos da caverna em sua finita sinuosidade labiríntica ossos alvos de antigos animais misturam-se nas límpidas águas dos inúmeros salões ossos de diferentes antiguidades os quais formam seres virtuais figuras anacrônicas e bizarras o tempo se perde e se encontra em mistura caótica e atemporal todos os segundos todas as horas todos os dias todas as semanas todos os meses todos os anos todos os decênios todos os séculos todos os milênios o tempo se dilacera e se recompõe a todo instante as coisas belas ou feias se fundem e se reconfiguram no tempo ínfimo e volátil do silêncio ruidoso os ossos do tempo se recompõem e se diluem nos sedimentos arenosos que se depositam no fundo do lago mas vêm à tona de tempos em tempos os ciclos se entrelaçam e forma nós que imediatamente se desatam os reflexos das estalactites na água transparente completam o quebra-cabeça infinito estalactites e estalagmites: ossos em formação e esqueletos das cavernas os ossos que se diluem no fundo do lago se recompõem nas estalactites e estalagmites desenhos que distintos se repetem e se refletem uma caverna-edifício com andares e apartamentos diferentes mas que compõem complexo sistema de interdependência lanças penduricalhos atemporais pregos que se desmancham e se transformam em cristais alquimias pregos lanças lustres luzeiros na escuridão luminosa recôndita onde o tempo se esconde os ossos vão e voltam do fundo à superfície voltam e vão em movimento ciclotímico vaivém que embranquece os ossos cada vez mais até atingirem a transparência e se diluirem por completo só o tempo parece penetrar pelas gretas da sólida rocha e flutua observando o lento crescimento e envelhecimento da caverna outrora um terremoto quase a destruiu mas as catástrofes não existem só para destruir mas para recompor ou rearranjar as coisas é uma maneira bruta ou brusca da natureza se recriar ninguém sabe mais de si do que ela própria os tortuosos desígnios naturais se concretizam com a magnitude de uma catástrofe e depois a lenta construção repovoamento e reposicionamento o tempo observa paciente aguardando que a natureza em seu lento trabalho multiplique e distribua pródiga a sua matemática sabedoria no aparente silêncio em que jaz a caverna ressoam os ruídos ensurdecedores do cataclismo que quase a destruiu o tempo flutua como se a lembrasse e a onipresença do silêncio denunciasse que em eras remotas ali houve muito barulho cada detalhe que compõe a caverna lembra rumorosos eventos os ossos alvos depositados no fundo do lago não são sombras mortas ou resquícios de um glorioso passado repleto de enérgicos movimentos mas rememoram tudo que já foram ou passaram conservam sua beleza e elegância que resplandece nas trevas sua memória permanecerá inalterada mesmo se um dia esses ossos se diluírem na límpida água azulada então passam a ser parte da grande memória universal poeira de lembranças que se mistura a outras memórias já mineralizadas as rochas acumulam recordações primordiais elas são testemunhas ou o resultado das tensões fraturas e rupturas da natureza elas nascem crescem ou morrem com essas tensões os ventos fustigam ou modelam os formatos das rochas as quais presenciam ou protagonizam as cenas essenciais e espetaculares da natureza elas são grandes atrizes que exibem suas formas sinuosas e sensuais carregam em sua composição e forma os eventos naturais e as infinitas possibilidades que resultam deles a recombinação dos elementos propicia a criação incessante de novas rochas o magma se espalha pelo solo fértil e coberto de mato a lava arrasa tudo que encontra queimando e calcinando a vegetação e o solo o material incandescente se arrasta na mata o fogo se alastra a lava avança como um rio em chamas o magma brilha com suas cores quentes se justapondo ao verde que sucumbe resignado à fúria do vulcão a poeira vulcânica se alastra rapidamente com o auxílio dos ventos se estendendo a quilômetros de distância a espessa nuvem de poeira e fumaça sufoca qualquer ser vivo que tenha escapado da sanha incendiária do magma o céu antes decorado de um azul claro mas intenso quase turquesa de tão luminoso tinge-se agora de um negro azulado os ventos furiosos varrem a terra a centenas de quilômetros por hora o véu negro cobre o céu rasgado a curtos intervalos por luminosos raios que sem piedade penetram em gigantescas árvores dividindo-as ao meio e cavando em seguida grandes buracos no solo o fogo vindo do céu e o fogo das entranhas da terra se funde e fustiga a floresta acuada que sucumbe com seus infinitos tons de verde sendo transformados num amálgama do mais intenso vermelho do mais intenso laranja do mais intenso amarelo para depois ser convertida em enorme massa disforme completamente negra grossas gotas de chuva caem sobre o barulho ensurdecedor dos trovões o vulcão continua a expelir grande quantidade de material incandescente que não se apaga com a chuva tão facilmente o negrume no céu também não se dissipa ao contrário tende a se espalhar cada vez mais outros vulcões entram em atividade num efeito natural em cadeia um longo tempo se passa com vulcanismos tempestades e a mais completa escuridão o brilho do sol dificilmente poderia ultrapassar a espessa camada de poeira preta o frio vento que vem do norte suaviza as altas temperaturas provocadas pelo magma em excesso chove ininterruptamente durante incontáveis dias ou meses ou anos o tempo parece ter esquecido de se contar ou de se espelhar tudo acontece como se ele fosse uma malha elástica que se estica ao infinito o tempo avisa que não se conta nós é quem o contamos para dele nos apropriarmos como a qualquer objeto chove chove chove ou talvez fosse mais apropriado dizer que as hidrelétricas do céu abriram suas comportas sem qualquer prazo determinado para serem fechadas a chuva intensa cava sulcos profundos na terra a água se mistura ao solo formando um caldo negro que atropela as grandes porções de floresta fechada ainda não atingidas a lama negra avança derrubando árvores de todos os tamanhos e soterrando a vegetação rasteira os ruídos do mato pegando fogo quase conseguem abafar o sopro do vento setentrional o quente e o frio se encontram se abraçam e se fundem a fumaça negra levada pelo vento a lugares distantes prenuncia um iminente e maior cataclismo rios caudalosos de lama negra inundam e arrasam as terras férteis e verdes ondas gigantescas se erguem como paredões de água azulada em alto-mar abaixo dele as placas tectônicas procuram se acomodar em disputa por espaço a justaposição e o entrechoque dessas rochas gigantescas têm efeito espetacular as placas não cessam de se atritar as vagas enormes se sucedem num movimento rápido e violento em direção à costa essas grandes ondas verde-azuladas avançam ganhando alturas de cem a cento e cinqüenta metros enquanto novas ondas igualmente gigantescas são formadas em alto-mar já perto da praia a grande marola verde-azulada se mistura à areia adquirindo tonalidades marrom claras as águas do mar em revolução se mesclam com a lama negra e incandescente que desce furiosa e quente das terras montanhosas o magma avança sobre as águas do mar revolto o fogo e a água têm encontro radical num embate ferrenho dos elementos o fogo sucumbe se apagando depois de realizar bela e incendiária performance já apaziguado se permite ser apagado com veemência pelas águas revoltas do oceano com o choque das placas tectônicas um vulcão em alto-mar entra em erupção em instantes o magma penetra a água como um jato incandescente corpo estranho em mundo líquido chega à superfície e se projeta a metros de altura deslocando em sentido vertical uma grande massa de água que revolta forma outro conjunto de grande ondas que se dirigirão à costa devastando ilhas avançando ainda mais continente adentro a quilômetros da praia uma grande nuvem de fumaça negra se espalha magma e água se fundem uma massa negra de lava vai se erguendo em alto-mar como um tosco tótem num punhado de milênios depois de inúmeras e violentas erupções nasce uma ilha vulcânica que com o tempo é fertilizada pelos portadores de sementes com suas fezes pássaros insetos e o vento carregados de pólen povoam de plantas floríferas os vastos terrenos férteis de material vulcânico grandes áreas continentais encostas e planícies soterradas pela lama negra com o tempo são repovoadas por animais alados seres do vento que trazem consigo as cápsulas da vida as sementes resíduos de sua dieta envoltas em bosta bombinhas que explodem em formas vegetais de infinitas tonalidades de verde flores de infinitas formas cores e tonalidades berrantes em meio a uma caótica sinfonia polifônica de cantos vozes e ruídos em risonho caos criador camadas de sons e cores que se justapõem se chocam se combinam e se fundem uma aranha tece o primeiro fio de sua teia fonte de alimentação armadilha e morada tecido o primeiro fio num galho qualquer ela espera paciente que o acaso com o auxílio do vento leve a outra extremidade do fio a se fixar em outro galho só então ela começa a construir meticulosa sua teia fina e forte estrutura quase invisível não fosse o reflexo dos raios de sol sobre os delicados mas resistentes fios sua condição quase invisível é a garantia da sobrevivência de sua construtora reforçada pela complexidade e perfeição da arquitetura dessa obra simples e magnífica concluída a construção da teia só resta à aranha esperar não suas vítimas ela não é uma assassina mas apenas seus alimentos ela espera e espreita silenciosa observada apenas pelo sol os fios brilham cintilantes e iridescentes com a luz já intensa da manhã uma mosca incauta voa veloz em seu primeiro passeio matinal depois de uma fresca noite de bons sonhos cheio de energia o inseto plana suave sobre a relva alta com infinitas nuances de verde o violento sol estival banha o dia e se reflete nas delicadas asas furta-cor em tons metálicos de verde azul e vermelho ao som transparente e metálico das cigarras que hipnotiza os campos e se mescla ao chacoalhar do vento sobre as árvores arbustos e vegetação rasteira abelhas besouros e beija-flores em abundância se lambuzam do néctar das flores espalhando pólen no ar o fecundo pó amarelo cai suavemente sobre a relva para penetrar em seguida no fofo e fértil solo as flores com suas cores gritantes e suas formas sensuais competem numa disputa selvagem para atrair o maior número possível de seres exalam seus fortes perfumes lançando suas armas na desenfreada competição para perpetuar suas espécies um amálgama de fortes aromas flutua no ar amarelado de pólen a mosca voa faz pequenas acrobacias e graciosos volteios num microbalé aéreo mas ao ousar uma manobra mais arriscada suas ágeis asas se engancham na quase invisível e mortal teia ela se debate tentando se livrar dos poderosos fios que a prendem em desespero ela tenta se soltar uma duas três vezes em vão a aranha desloca-se rápida em direção à mosca já resignada a sua triste sina bem próxima a presa a aranha ainda pára inesperada contemplando-a impassível em seus últimos momentos mas ligeira começa a envolver a desgraçada mosca no mais resistente fio que é capaz de fabricar em pouco tempo o que era a mosca parece um casulo ou uma múmia pequenina que a aranha deixa pendurada na teia como um adorno ou troféu o primeiro de uma coleção infinita outros insetos em breve irão se somar a essa coleção reserva de alimentos para um banquete inesquecível e provisão para tempos difíceis com o futuro imediato assegurado ela volta a seu posto para observar com a frieza que está inscrita em seu dna a lenta morte de outras presas nos delicados fios de sua teia uma fresta de luz penetra a escuridão da caverna como uma fina espada dourada que corta a carne densa de um corpo em agonia o brilho metálico se reflete no lago que há no meio da caverna ao seu redor forma-se uma moldura azul profundo brilhante no meio do lago tudo é negro a água passa por uma fina fenda que leva a uma galeria maior ainda onde há um lago muito maior e mais profundo aí habitam seres dos mais estranhos como o voraz e onívoro peixe de três cabeças cujos pescoços se prolongam quando está caçando seus seis potentes olhos têm um mecanismo semelhante ao raio-x ele se esconde com freqüência atrás de rochas e fica à espreita grande comprido e escuro se arremessa sobre suas presas em velocidade estonteante como lança mortal o que favorece seu excelente desempenho de grande predador apesar de comprido é ágil e flexível porque cartilaginoso como os tubarões possui dentes afiadíssimos solitário só se junta em bandos na época do acasalamento vivíparo a fêmea pare apenas um filhote a cada gestação não tem predadores ou inimigos o tixo pequeno peixe transparente tem olhos também transparentes que se projetam longe à procura de pequenos crustáceos igualmente transparentes distantes de seu dono os olhos desses peixes muitas vezes são devorados pelo peixe-de-três cabeças mas felizmente a evolução dotou o tixo com a capacidade de regeneração dos olhos uma das vítimas preferidas dele o peixe-sapo que tem o hábito de nadar pulando possui coloração esverdeada e quando ameaçado suas cores se intensificam adquirindo um tom de verde fluorescente capaz de ofuscar seus predadores e deixá-los cegos por minutos tempo necessário para fugir o peixe-flecha é conforme o nome sugere revestido por uma pele com finas pontas transparentes lembra o porco-espinho mas essas pontas muito venenosas têm sensores que detectam a presença de predadores e presas por todos os lados antes que ele os veja os pequenos peixes-formiga que vivem e caçam em grandes colônias possuem uma organização social semelhante à das formigas abelhas e cupins são também transparentes possuem antenas curtas que têm a função de comunicar e detectar alimentos elas avisam através de ondas coloridas azuis quando devem prestar atenção amarelas quando encontram alimento vermelhas quando devem atacar esses três sinais são suficientes para desenvolverem um complexo sistema de comunicação que se baseia nas cores e na distância que as ondas percorrem o remugo pequeno crustáceo semelhante ao camarão possui a estranha capacidade de mudar de cor e forma quando através das suas sensíveis antenas detecta a presença de estranhos se metamorfoseia de lagarto-aquático-da-caverna venenoso e temível personagem que inventou para si como auto-proteção o qual nenhum ser que habita o lago desconfia se tratar de um eficiente disfarce desse inofensivo camarão o peixe-morcego é também transparente com tons alaranjados veloz na água quando ameaçado parece voar anfíbio seu vôo se prolonga para o ar como os morcegos orienta-se através de uma espécie de radar que capta os sons emitidos pela ressonância nos objetos suas asas-barbatanas têm o formato semelhante às asas dos morcegos quando está fora da água aloja-se no teto da caverna disputando lugar com os morcegos normais sendo muitas vezes devorado por eles devido a sua condição anfíbia paga o preço de ser predado tanto na água quanto no ar ao contrário do que talvez previa seu processo evolutivo o caranguejo-pintor para se defender de seus predadores exala uma tinta amarelo fluorescente capaz de deixá-los tontos por alguns minutos indivíduos de um de seus predadores os peixes-de-três-cabeças perceberam que se expelido em pequenas quantidades esse líquido tem bom efeito alucinógeno motivo de stress ao caranguejo-pintor pois eles aparecem apenas para que aquele solte e desperdice sua preciosa arma o polvo-de-dezesseis-pernas é também transparente e predador do caranguejo-pintor ejeta um líquido que anula o efeito alucinógeno da tinta expelida por aquele o peixe-faxineiro se alimenta limpando tudo que encontra mas prefere limpar os ossos dos animais antigos depositados no fundo do lago devora os fungos aquáticos e todo tipo de sujeira quando os ossos estão resplandescentes de tão brancos vai limpar as pedras que ficam igualmente brancas e brilhantes quando termina se não estiver satisfeito vai limpar os dentes pontiagudos do peixe-de-três-cabeças tarefa das mais perigosas pois quando acaba tem que sair rápido antes que este o devore o que não é incomum acontecer as anêmonas-sereias ao contrário da maioria transparente proliferam coloridas emitem um som hipnótico em baixa freqüência que atrai principalmente os peixes-formiga que mesmerizados nadam em fila indiana em direção àquelas que os devoram até se fartarem alguns peixes-formiga já têm desenvolvido um dispositivo orgânico à prova daquele som fatal preocupadas as anêmonas têm que desenvolver outro mecanismo que atraia suas presas do contrário podem ser extintas em algum tempo lá fora o sol brilha em seu ponto máximo o reflexo de sua luz ofuscante produz um efeito caleidoscópico sobre as rochas multicor que compõem o desfiladeiro o vento gélido com fúria repentina atravessa o vasto corredor com velocidade cortante
Palavras em Transe - tela 1 (2006)
Acrílica s/ tela
314,0 cm (diâmetro)

0 comentários:

Postar um comentário